terça-feira, 16 de agosto de 2011

Crítica: Simplesmente um baile (por Humberto Giancristofaro)

foto de Núbia Abe


Crítica da peça Bailei na curva
Autor: Humberto Giancristofaro

Bailei na curva é um texto do dramaturgo gaúcho Julio Conte, escrito em 1983. Repetidamente, é escolhido pelas escolas de teatro para suas peças de final de curso, pois dispõe de uma boa quantidade de personagem. Esse é caso da montagem apresentada no II Festival de Teatro de Itajaí pelos alunos da Escola Anchieta Arte Cênica. A trama, porém, exige uma dedicação dos atores para que a evolução da peça, demasiadamente longa, não fique maçante. Todas as escolhas para essa realização recorreram às formas simples. Desprovida de cenário, os bancos plástico e os recursos mímicos exigem da imaginação da plateia a mentalização do ambiente onde a cena se passa. Com isso, toda a responsabilidade pela expressividade da peça recai sobre os atores.

Usando a temática política do Brasil na segunda metade do séc. XX, especialmente o golpe militar, os personagens começam por atravessar sua infância na década de 60. Os amigos de uma escola ignoram a animosidade ideológica entre seus pais e só querem saber dos divertimentos da idade. A caracterização dos atores lança mão das inquietudes juvenis para explorar uma atuação caricata. Nessa primeira parte da peça a agilidade de Gabriela (Tatiane Jacobs) faz com que ela se destaque do grupo, arrebatando risadas da plateia por sua expressividade. Filha de um sindicalista, ela vê seu pai desaparecer e, ao correr da história, também seu irmão. As mudanças que tal experiência invariavelmente causa numa pessoa ficam bem construídas na sua figura dramática e, até sua formatura em medicina, ela sustenta um personagem visivelmente marcado pelo balanço entre suas amarguras e realizações.

Quando a faixa etária dos personagens alcança a adolescência, o apelo à graça da sexualidade toma conta da cena. As idiossincrasias enfrentadas para se conseguir um beijo são um prato cheio para o humor fácil. Contudo, Po’Renato (Adriano Magalhães) consegue alcançar uma expressão engraçada que domina a plateia e a leva ao ápice do riso sem cair no clichê. Mesmo assim, algumas piadas acabaram se perdendo por reações precipitadas dos atores, em geral o ritmo da peça é bem desenhado, começando de forma bem frenética e alcançando um clima mais calmo ao passar das décadas, momento em que os atores aparentam um maior conforto. A pouca idade e experiência de todos os atores não os impediram de serem ousados e, principalmente, de se divertirem em cena, como se estivessem num baile. O vigor e a emoção deles alcançam o público e o carrega para dentro da história.

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