quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Crítica: Silencio, no hay charla (por Humberto Giancristofaro)

foto de Núbia Abe

Crítica da peça Flashes da Vida
Autor: Humberto Giancristofaro

A Cia Mutua, na figura de seu mímico Guilherme Peixoto, exibiu o espetáculo Flashes da Vida no dia 16 de agosto em Itajaí. Vindo de uma longa tradição de circo o ator é também seu próprio diretor e autor de seus números. A estrutura cênica partiu de movimentos clássicos da pantomima para criar um ambiente de entretenimento. Preocupado em fazer as pessoas rirem, o espetáculo utiliza uma linguagem simples com tiradas rápidas na forma de seis esquetes.

A mímica é uma maneira de designar o nome genérico de uma arte, que tem suas origens nas raízes do teatro grego, fortemente ligado à educação – é associada a uma das musas, Polímnia, que educou Apolo por meio da mimese. Este é o termo que se refere à cópia e é justamente isso que o mímico busca em sua atuação: mimetizar o mundo através de uma linguagem gestual. Pode-se fazer com essa técnica todos os gêneros, a comédia, porém, é a atmosfera mais profícua a ela.

Para além de copiar gestualmente os objetos, a fim de que eles pareçam que estão em cena, Guilherme Peixoto usa uma camada subjetiva da mímica – é o caso da cena em que seu chapéu fica preso em um ponto suspenso no ar sem que o ator consiga move-lo. As leis da física são postas em xeque para ajudar a tornar o mundo do palco um lugar mágico, onde essas leis não valem tanto e onde o nonsense pode acontecer para exaltar habilidades impossíveis; chegar ao buraco de golfe antes da bolinha arremessada, por exemplo.

Outro elemento técnico que vale ressaltar nesse trabalho é a preocupação com a iluminação, assinada também pelo mímico. As luzes ajudam a demarcar as áreas e distinguir ambientes para a cena, é ela que define o espaço do carro; do campo de golfe; do dentro e fora de uma casa. Especificamente neste esquete da casa, em que o personagem está desesperadamente apertado para ir ao banheiro, a luz é a chave para criar toda a tensão da cena. Percebendo que a porta do banheiro estava emperrada, ele decide sair pela janela e caminhar pelo batente do prédio até a janela do banheiro. Toda a construção de aparente periculosidade da cena se baseia na quão fina é a marca de luz que vem das laterais, sobre a qual ele deve se equilibrar para não cair.

Por último, o recurso de pantomima usado no esquete final se torna inusitado por associar ao humor uma pitada de thriller. A pantomima é um gênero da mímica, caracterizado por possuir uma trama e contar uma história mais elaborada do que apenas encenar uma situação pontual. Com esse esquete, em que o performer visita à casa de sua apaixonada e acaba caindo numa armadilha letal, o ator se mostra versátil na arte de construir impressões sensíveis.

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