segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Crítica: Parábola para crianças (por Lucianno Maza)

Seguindo a tradição de espetáculos simples com bonecos para apresentações em teatros e espaços educativos, a companhia Etc I Tal Artes Cênicas e Manipuladora de Formas da cidade de Itajaí (SC) conta parábola sobre as crianças de nosso tempo.
Por Lucianno Maza
Itajaí

Um menino trata com descaso seus brinquedos enquanto passa seu tempo voltado para a televisão e o videogame. Em um sonho, uma série de encontros comicamente assustadores com os brinquedos rejeitados lhe faz tomar consciência de que deve gostar e cuidar deles. A história é contada pela companhia Etc I Tal Artes Cênicas e Manipuladora de Formas da cidade de Itajaí. 

Moralizadora, como toda parábola, tal ideia já pôde ser vista em outras obras infantis e tem como missão conscientizar as crianças de nosso tempo sobre os brinquedos e o brincar, exercitando a interação e convivência com amigos, outras pessoas e objetos não eletrônicos. A história alegoricamente ajuda a perpetrar a ideia de cuidado em geral, não apenas com suas coisas, mas também com si próprio e com os outros.

Coelho louco e homem sem cabeça
Ligeiro, o texto de “As Incríveis Histórias de Joe Em: Coragem Pra Quem Tem Medo” - criado pela companhia - não possui falas e é apoiado na conhecida trilha-sonora instrumental composta pelo francês Yann Tiersen para o filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” para criar o clima onírico. 

Divertidas em sua tensão são as passagens com um enlouquecido coelho (momento que exercita tempo e humor) e a cena com o homem sem cabeça. Primeiro assustado com aquele corpo, o menino acaba aceitando o diferente e se afeiçoando ao que seria um novo amiguinho para, em seguida, ser surpreendido pela traição do ser que lhe rouba a cabeça. No final, entende-se que aquela passagem de comedido terror é capitaneada por um boneco que teve sua cabeça arrancada pelo menino - é comum crianças deceparem seus brinquedos.

Para além dos limites
O mais interessante na direção de Cidval Batista Jr. é a expansão da cena para além da pequena caixa do teatro de manipulação. Quando os bonecos e manipuladores ultrapassam esse limite cênico pré-estabelecido, rompem com a ilusão teatral e tentativa de estabelecer perfeita realidade paralela, o que domina parte considerável dos espetáculos infantis. Tal possibilidade poderia ser ainda mais explorada, como na cena onde o boneco brinca de bola com os atores.

Dentre recursos conhecidos como fantoches, bonecos e meio-bonecos, são bonitas as passagens com o jogo de iluminação e sombras, quando o personagem do menino cai no buraco e quando encontra com o coelho.
O elenco formado pelo diretor e Flaviano Koch e Alexandra Ferreira que compõem com carisma os momentos onde surgem como atores interagindo com seus bonecos e esforço enquanto manipuladores. A iluminação e figurinos de Batista Jr. e cenografia deste com Max Reinert são bastante simples, mas funcionam para o transporte e apresentação em locais diversos. Não creditados, os simpáticos bonecos e objetos que surgem em cena mereciam ter confecção mais esmerada.

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