Por Lucianno Maza
Itajaí
Um menino trata com descaso seus brinquedos enquanto passa seu tempo voltado para a televisão e o videogame. Em um sonho, uma série de encontros comicamente assustadores com os brinquedos rejeitados lhe faz tomar consciência de que deve gostar e cuidar deles. A história é contada pela companhia Etc I Tal Artes Cênicas e Manipuladora de Formas da cidade de Itajaí.
Moralizadora, como toda parábola, tal ideia já pôde ser vista em outras obras infantis e tem como missão conscientizar as crianças de nosso tempo sobre os brinquedos e o brincar, exercitando a interação e convivência com amigos, outras pessoas e objetos não eletrônicos. A história alegoricamente ajuda a perpetrar a ideia de cuidado em geral, não apenas com suas coisas, mas também com si próprio e com os outros.
Coelho louco e homem sem cabeça
Ligeiro, o texto de “As Incríveis Histórias de Joe Em: Coragem Pra Quem Tem Medo” - criado pela companhia - não possui falas e é apoiado na conhecida trilha-sonora instrumental composta pelo francês Yann Tiersen para o filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” para criar o clima onírico.
Divertidas em sua tensão são as passagens com um enlouquecido coelho (momento que exercita tempo e humor) e a cena com o homem sem cabeça. Primeiro assustado com aquele corpo, o menino acaba aceitando o diferente e se afeiçoando ao que seria um novo amiguinho para, em seguida, ser surpreendido pela traição do ser que lhe rouba a cabeça. No final, entende-se que aquela passagem de comedido terror é capitaneada por um boneco que teve sua cabeça arrancada pelo menino - é comum crianças deceparem seus brinquedos.
Para além dos limites
O mais interessante na direção de Cidval Batista Jr. é a expansão da cena para além da pequena caixa do teatro de manipulação. Quando os bonecos e manipuladores ultrapassam esse limite cênico pré-estabelecido, rompem com a ilusão teatral e tentativa de estabelecer perfeita realidade paralela, o que domina parte considerável dos espetáculos infantis. Tal possibilidade poderia ser ainda mais explorada, como na cena onde o boneco brinca de bola com os atores.
Dentre recursos conhecidos como fantoches, bonecos e meio-bonecos, são bonitas as passagens com o jogo de iluminação e sombras, quando o personagem do menino cai no buraco e quando encontra com o coelho.
O elenco formado pelo diretor e Flaviano Koch e Alexandra Ferreira que compõem com carisma os momentos onde surgem como atores interagindo com seus bonecos e esforço enquanto manipuladores. A iluminação e figurinos de Batista Jr. e cenografia deste com Max Reinert são bastante simples, mas funcionam para o transporte e apresentação em locais diversos. Não creditados, os simpáticos bonecos e objetos que surgem em cena mereciam ter confecção mais esmerada.
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